A
Idade Moderna (o ultimo milênio, segundo o calendário da Família) tem visto
nascer uma nova ordem social entre os mortos-vivos. Houve uma época na qual os
Cainitas viveram sozinhos ou com suas proles; cada um era senhor de sua própria
cidade, e foi nessa Era que surgiram as Tradições. Alguns concederam-se títulos
e honras. Mas esta prática não era importante, porque não havia ninguém para
impressionar além dos mortais.
Mas quando as cidades cresceram e se tornaram metrópoles,
e havia fontes suficientes para abastecer muitos Membros, a sociedade vampírica
começou a mudar. Iniciava-se a era dos príncipes.
O termo príncipe, embora algumas vezes usado
pejorativamente, costuma ser aplicado ao ancião que retém o domínio sobre uma
área metropolitana específica. Em termos formais, um príncipe, ou princesa,
retém o poder de domínio. Ele, ou ela, faz as leis e é responsável por
manter a ordem. Em termos práticos, o príncipe é apenas aquele que está mais
apto a refrear os impulsos anarquistas. No princípio, o vampiro mais forte em
cada cidade simplesmente exigia o domínio. Com o tempo, porém, surgiram e
desenvolveram-se certas tradições envolvendo os requisitos para a reivindicação
e manutenção dos principados. A Camarilla codificou essas tradições e
obrigou ao seu cumprimento.
Depois da Inquisição, a importância da Máscara
ficou marcada nas mentes dos anciões, e eles passaram a confiar cada vez menos
nos vampiros mais jovens, a quem chamavam anarquistas. A revolta da seita
conhecida como Sabá foi a causa da maior parte de sua desconfiança, pois
temiam que tudo aquilo pudesse acontecer novamente. Os neófitos criados durante
o século XVIII foram as crianças da idade moderna, alheias à filosofia dos
anciões. Depois de um incidente em Londres em 1743, no qual a Máscara foi
quebrada por um anarquista, a Camarilla decidiu reconhecer formalmente o que já
era um fato há muitos séculos- o poder do príncipe.
O termo "príncipe" é exatamente isso:
um termo. Não é um título adquirido por direito , nem uma posição hereditária
de qualquer espécie - e, por isso, muitos dos Membros fazem objeção ao seu
uso. É simplesmente um nome e um conjunto de direitos que um vampiro poderoso
pode alcançar. Nem todas as cidades têm príncipes; de fato, algumas são
regidas por conselhos, enquanto outras não possuem qualquer espécie de
governo. O uso moderno para "príncipe" é uma referência à época
na qual cada Membro era o regente secreto da cidade onde vivia, uma prática que
foi comum na Itália medieval. Em alguns lugares, títulos como Duque, Barão ou
Conde (em suas formas culturalmente corretas) são usados.
O príncipe não reina inteiramente sobre uma
cidade; sua posição assemelha-se mais à de um supervisor. Acima de tudo, o príncipe
é o árbitro final das disputas entre os Membros de sua cidade, sendo responsável
por garantir que a Máscara seja preservada. Na interpretação dos anciões,
isto geralmente significa que o príncipe deve reprimir e perseguir os
anarquistas.
Os Membros que vivem numa cidade não devem ao seu
príncipe nenhum voto de fidelidade, obdecendo-o apenas na medida de sua
covardia. Quando sua lei é questionada ou contrariada, o príncipe usa a força
para manter o controle. Mas se o seu poder não for suficiente para tal, então
sua regência chegou ao fim. Existem alguns príncipes que não compreendem a
informalidade de sua posição; acreditam ser reis e seus reinados são
caracterizados por envolver muito protocolo e ritual. Eles mantêm uma corte e,
quando precisam proceder a algum julgamento, exigem o comparecimento de todos os
Cainitas de seu domínio. A arrogância desses príncipes costuma exceder os
limites da tolerância, mas é compreensível - quem, senão os insanos ou
verdadeiramente egocêntricos, desejaria uma posição tão perigosa?
Muitos Membros ignoram o príncipe, da mesma forma
que ignoram todos os indivíduos de sua própria espécie. Os seres poderosos
que, unidos, constituem o Inconnu, e muitos dos anciões, não se deixam
impressionar por essas fúteis exibições de poder. Para eles, o título
representa a arrogância de um indivíduo ainda jovem o bastante para desejar o
poder. O príncipe não é uma autoridade perante a qual se prostrariam. Quando
visitam uma cidade, seu príncipe, se for sábio, é quem deve prestar reverência
a eles.
Assumindo o Comando
Tradicionalmente, o príncipe é o mais velho dos
Membros de uma cidade, embora isto não seja mais uma regra geral. O método de
"coroação" varia de cidade para cidade e de príncipe para príncipe.
Normalmente é uma violenta usurpação de poder, pois apenas aqueles com poder
e ambição são capazes de impedir que suas reinvidicações sejam desafiadas.
Normalmente o apoio dos anciões da cidade é requerido. Os anciões mais
poderosos são conhecidos coletivamente como A Primigênie, e costumam
constituir um conselho. O príncipe precisa de sua sanção para reger.
Qualquer um pode reivindicar a posição de príncipe,
mas apenas quando ninguém se opõe ao pretendente é que este pode adquirir domínio
sobre a cidade. Se houver um desafio, os competidores precisam lutar uns contra
os outros até que a soberania seja determinada.
Este conflito não é simplesmente um duelo, ou
mesmo qualquer espécie de combate direto. É, como todos os conflitos entre
vampiros, parte da grande Jyhad, sendo uma progressão de jogos e manobras,
truques e ameaças, violência e derramamento de sangue. Os diversos anciões,
proles e círculos aliam-se a um lado ou ao outro - quer influenciados por crenças
pessoais fortes, promessas de grandes recompensas ou ameaças de retaliação.
Freqüentemente as instituições mortais que estejam sob o controle do vampiro,
como a polícia, os bancos ou os meios de comunicação, podem ser empregados na
guerra. Quase sempre o processo termina com a morte de um dos combatentes. É
raro que o vencedor seja magnânimo, e mesmo se for, a Primigênie não o
permitirá.
É muito difícil dar golpes de Estado: o príncipe
costuma ser pessoalmente muito poderoso e quase sempre gera uma prole para
protegê-lo. Outra consideração a fazer, antes de qualquer tentativa de insurgência,
é que opor-se ao príncipe normalmente significa opor-se aos anciões da
cidade. Os anciões, quando unidos, possuem poder suficiente para enfrentar
todos os desafiantes.
Uma tentativa de usurpação significa um período
de grande instabilidade, pois o conflito pode vazar para o reino mortal e ameaçar
a Máscara. O temor de que isso aconteça impede muitos anciões de mudarem de
lado ou dividir seu apoio entre dois ou mais adversários.
Muitos anciões apóiam o príncipe porque não
querem correr o risco de tumultos. Eles têm-se tornado cada vez mais
protecionistas ao longo de suas vidas, e fazem tudo que podem para garantir um
ambiente estável. São extremamente conservadores em tudo que fazem, pois
buscam apenas sobreviver,e não promover mudanças.
É quase impossível desafiar com sucesso a um príncipe
que conte com o apoio da Primigênie, pois esses anciões irão direcionar sua
influência, seus seguidores e mesmo seus poderes pessoais para o benefício
dele. Embora muitos tentem desafiar o príncipe, a maioria é destruída antes
mesmo de começar.
Portanto, é possível governar os Amaldiçoados.
Sabe-se de príncipes que abdicaram voluntariamente de suas posições, embora
isso raramente ocorra.
VANTAGENS
Muitos vampiros ambicionam a posição de príncipe
simplesmente pela glória. O título, na verdade, possui algumas vantagens que
podem não ser aparentes à primeira vista.
• Direito a progênies: O príncipe é o único
vampiro com total liberdade para gerar progênies. Nenhum outro possui essa
liberdade, a não ser que lhe seja concedida por ele. O príncipe portanto mantém
um controle poderoso sobre os outros vampiros, dado que a maioria, em algum
momento, deseja gerar uma criança da noite.
• Proteção dos anciões: A Primigênie
geralmente irá apoiar o príncipe enquanto este mantiver a Máscara e reprimir
os distúrbios causados pelos anarquistas.
• Poder político dentro da Camarilla: O príncipe
adquire um status elevado e é ouvido pela maioria dos anciões.
• Supremacia sobre aqueles que entram em seu domínio:
É um direito tradicional do príncipe exercer controle sobre os Membros que
entram em sua área de influência, e os recém-chegados têm o dever de
apresentar-se a ele. Caso não o façam, é direito do príncipe puni-los.
• Liberdade para alimentar-se: O príncipe também
está apto a limitar (para o bem da cidade) a alimentação dos súditos. Em
nome da proteção da Máscara, ele pode impor restrições a alguns ou todos os
Membros que viverem na cidade. Elas normalmente dizem respeito aos locais e
presas permitidos. Se desobedecerem, o príncipe pode acusá-los de violar a Máscara
e puni-los de acordo.
• Poder sobre os inimigos: O príncipe tem a
autoridade de convocar uma Caça ao Sangue, o que lhe concede poder de vida e
morte sobre aqueles que cruzarem seu caminho. Não lhe é permitido matar à
vontade, mas se o príncipe determinar que alguém quebrou as Tradições, pode
punir esses indivíduos de acordo. Isto está sujeito a muito abuso, e portanto
proporciona uma grande quantidade de poder.
Intriga
A política de poder que gira em torno de um príncipe
pode ser bastante dinâmica, especialmente quando mais de um ancião está
presente e tentando controlar as suas decisões. Cada um pode tentar ameaçar,
adular e até mesmo levar o príncipe a fazer as coisas de um certo modo,
fingindo o tempo todo um total desinteresse pelos meandros doentios da política.
Os anciões não ousam forçar as coisas até o ponto em que o príncipe seja
destronado, mas eles arriscarão até bem perto das últimas conseqüências. A
Jyhad existe em mais de um nível, e muitas gerações diferentes estão
concentradas num mesmo lugar.
Habitando uma cidade supervisionada por um príncipe,
um vampiro precisa aceitar certas obrigações. A cidade proporciona uma certa
segurança da qual todos se beneficiam, e para mantê-la é preciso seguir
determinadas regras de comportamento. De uma forma ou de outra, a maioria dessas
regras é praticamente universal. Elas são conhecidas como as Seis Tradições.
São as leis mais antigas da Família e cabe ao príncipe garantir o seu
cumprimento. Os Membros que se mudem de São Francisco para Moscou têm plena
consciência de que essas Tradições também serão válidas na nova cidade.
Ignorância não é desculpa.
Os anarquistas rebelam-se contra todas as restrições
impostas pelos anciões (seus odiados inimigos), que são representadas pelo
poder do príncipe. Esses filhotes acreditam que existe pouco a temer no mundo
moderno, e que as velhas superstições e Tradições devem ser abandonadas.
Alguns acreditam que a Máscara não é nada mais
que a materialização do terror dos Membros que ficaram muito velhos e
amedrontados. O príncipe precisa trabalhar constantemente para conter os
anarquistas e impedi-los de abrir qualquer brecha na Máscara. Algumas vezes,
ameaças não bastam.
A maioria dos anarquistas não acredita que a
Gehenna seja uma ameaça, e muitos duvidam que o vampiro original tenha sido
Caim. Eles simplesmente não acreditam nessas lendas e as tratam da mesma forma
que tratam as histórias sobre o Jardim do Éden ou a Torre de Babel.Os
anarquistas suspeitam que os anciões usam essas histórias para impor medo aos
anciães e desta forma controlá-los melhor. Entre os anarquistas, é
considerado de mau gosto admitir qualquer fé nesses mitos. Eles se irritam com
as restrições impostas pelos anciões, e não adquiriram a sabedoria da idade.
Os filhotes são bem menos poderosos dentro da sociedade vampírica, de modo que
não é surpresa que se rebelem.
A idade moderna provocou muitas mudanças nas
almas da Humanidade, e foi a partir desses humanos que os novos vampiros foram
criados. Com as mudanças operando cada vez mais rápido na cultura moderna,
muitos Membros prevêem um surto de anarquistas rebeldes. Alguns dentro da
Camarilla exigiram uma interrupção na criação de todos os novos vampiros,
mas é improvável que algum tipo de interdição possa ser colocado em prática.
Muitos anciões simplesmente acreditam que os fatores naturais seguirão seu
rumo e que os anarquistas mais radicais serão varridos da Terra antes que
possam abalar a comunidade vampírica.
A Primigênie
Muitos príncipes são "aconselhados"
por um grupo de anciões que são conhecidos coletivamente como A Primigênie.
Juntos, esses anciões podem ser considerados os Membros mais poderosos da
cidade; individualmente não são tão poderosos quanto o príncipe, nem desejam
se expor ao risco ou ao tédio dos deveres do cargo.
A Primigênie é extremamente influente,
cabendo-lhe o papel de moderadora dos poderes ditatoriais do príncipe. Ao mesmo
tempo, seus integrantes possuem seus próprios objetivos, não sendo incomum que
seus bate-bocas e brigas internas causem tantos problemas quanto os comandos
ditatoriais de qualquer príncipe.
O Elísio
Um príncipe costuma decretar que certas porções
de seu domínio devem permanecer livres de toda e qualquer violência. Esses
locais são conhecidos como Elísios, e tendem a ser os lugares nos quais os
anciões da cidade passam a maior parte de seu tempo. Os Elísios são a parte
da cidade onde os acordos são fechados, e também onde ocorre a maioria das
intrigas e debates. Embora em ocasiões raras a santidade do Elísio seja
violada, normalmente a "Pax Vampirica" é mantida. Certos edifícios
costumam ser designados como parte do Elísio, mais comumente locais devotados
às belas artes ou que sejam de algum modo estimulantes do ponto de vista artístico
ou intelectual. Assim, os Elísios costumam ser lugares como teatros, museus e
galerias de arte. Ocasionalmente, porém, os refúgios de certos Cainitas ou até
mesmo clubes noturnos podem ser designados Elísios.
As regras do Elísio costumam ser muito simples.
Primeiro e mais importante, em seus arredores não é permitida nenhuma violência
contra Membros, o "rebanho, ou objetos físicos. Na dor da Morte Final
nenhuma obra de arte deve ser destruída (o que torna os integrantes do clã
Toreador, os mais ardorosos defensores do costume do Elísio). O Elísio é
considerado território neutro, não sendo admitido qualquer tipo de conflito
entre Membros em seus arredores. Assim, embora nos Elísios possam haver
intrigas e troca de insultos furiosos, raramente as discussões tornam-se
violentas. Finalmente, muitos consideram de mau gosto atrair atenção ao entrar
ou sair do Elísio. Algumas áreas são fechadas à noite, e por isso foram
tomadas algumas providências para permitir o livre acesso dos Membros.