Arnold
Paul (ou Paole) foi assunto de um dos mais famosos casos de vampiro do século
XVIII. Chegou em meio a uma onda presumível de ataques de vampiro que
infernizaram a Europa central no fim do século XVII até meados do século
seguinte. Esses casos de um modo geral, e o de Paul, em particular, foram a
principal causa do reavivado interesse pelos vampiros na Inglaterra e na França
no início do século XIX. Paul nasceu no início da década de 1700 em
Medvegia, ao norte de Belgrado, numa área da Sérvia então pertencente ao Império
Austríaco. Serviu no exército, no que era chamado de "Sérvia
Turca", e na primavera de 1727 voltou para a sua cidade natal. Paul comprou
diversos hectares de terra e se estabeleceu como agricultor. Foi assediado por
uma jovem de uma fazenda vizinha, da qual ficou noivo. Paul era conhecido por
ser uma pessoa honesta e de boa índole, sendo bem recebido pelo povo da cidade
em seu retorno. Entretanto, notou que uma certa tristeza permeava sua
personalidade.
Paul finalmente disse a sua noiva que seu
problema era oriundo dos dias de guerra. Na Sérvia Turca, tinha sido visitado e
atacado por um vampiro. No final, matou o vampiro seguindo-o até seu cemitério.
Também comeu um pouco da terra do túmulo do vampiro e cuidou de seus
ferimentos com sangue do vampiro para se livrar dos efeitos do ataque. Uma
semana depois de ter contado sua história, Paul foi vítima de um acidente
fatal, e foi enterrado em seguida.
Algumas pessoas após seu sepultamento,
vieram à tona relatos da aparição de Paul. Quatro pessoas que tinham feito os
relatos morreram e o pânico se espalhou pela comunidade. Seus líderes
decidiram agir para amenizar o pânico, desenterrando o corpo para determinar se
Paul era ou não um vampiro. O túmulo foi aberto no quarto dia após seu
enterro. Dois cirurgiões militares estavam presentes quando a tampa do caixão
foi removida. Encontraram um corpo que parecia ter sido recém-enterrado. O que
parecia ser pele nova estava presente sob uma camada de pele morta e as unhas
continuavam a crescer. O corpo foi perfurado e o sangue jorrou. Os presentes
acharam que Paul era um vampiro. Seu corpo foi empalado, ouvindo-se um forte
gemido. Foi decapitado e cremado. O caso teria terminado ali, mas não foi o que
aconteceu. As quatro outras pessoas que tinham morrido foram tratadas da mesma
forma para que não reaparecessem como vampiros.
Em 1731, na mesma área, cerca de 17 pessoas
morreram, com sintomas de vampirismo num período de três meses. Os moradores não
agiram prontamente, até que uma menina se queixou que um homem chamado Milo,
que tinha falecido recentemente, a atacara no meio da noite. Notícias dessa
segunda onda de vampirismo chegaram à Viena e o imperador austríaco instaurou
um inquérito a ser conduzido pelo cirurgião do Regimento de Campo Johannes
Fluckinger. Nomeado em 12 de dezembro, Fluckinger se encaminhou para Medgevia e
começou a colher informações do que tinha ocorrido. O corpo de Milo foi
desenterrado, descobrindo-se que estava num estado similar ao de Arnold Paul. O
corpo foi então empalado e cremado. Como é possível que o vampirismo,
erradicado em 1727, tivesse voltado? Foi determinado que Paul tinha
"vampirizado" diversas vacas das quais os mortos mais recentes tinham
se alimentado. Sob as ordens de Fluckinger, os moradores passaram a desenterrar
todos que tinham morrido nos meses recentes. Foram desenterrados quarenta,
dezessete dos quais estavam num estado de preservação igual ao do corpo de
Paul. Foram todos empalados e cremados.
Fluckinger preparou um relatório completo
de suas atividades e apresentou-o ao imperador no início de 1732. Seu relatório
foi publicado a seguir e tornou-se um best-seller. Em março de 1932, relatos de
Paul e dos vampiros de Medgevia circularam nos periódicos da França e da
Inglaterra. Em virtude da natureza bem documentada do caso, tornou-se o foco de
estudos e reflexões futuras sobre vampiros, e Arnol Paul tornou-se o mais
famoso vampiro da época. O caso de Paul foi muito influente nas conclusões a
que chegaram tanto Dom Augustim Calmet e Giuseppe Davanzati, dois estudiosos católicos
que escreveram livros sobre o vampirismo em meados daquele século.