Há
aproximadamente dois séculos e meio, um padre francês de nome Calmet procurou
coletar toda a informação existente sobre a natureza dos vampiros. Não é de
admirar que seu tratado contenha muitas contradições e áreas de incerteza.
Citando os relatórios das Comissões Papais enviadas para lidar com
"pragas" de vampiros na Áustria, na Hungria, Morávia e Silésia,
Calmet relata que um vampiro pode ser destruído se trespassado por uma estaca
de madeira, sendo que a esse ato deve seguir-se a decapitação e a incineração
dos restos. Isto realmente irá destruir um vampiro, da mesma forma como decerto
destruiria um mortal. Homem brilhante, esse Calmet.
Os filmes abreviaram um pouco esse
tratamento criando a falácia de que a estaca é suficiente. Não creias nessas
fábulas. Transfixar seu coração com uma estaca imobilizará o vampiro, mas
ainda existem outros procedimentos que são terminus sit indispensáveis. Sejam
eles incineração ou luz solar, ist egal; jamais confies apenas na estaca. Nem
ponhas tua fé unicamente em armas de metal. Essas coisas machucam, mas os
ferimentos saram depressa.
A luz do sol, conforme é dito, representa a
agonia final para os dessa espécie. Nos filmes, vemos vampiros caricatos, com
seus mantos e maquilagem pesada, sendo reduzidos a poeira pelo afago do sol, ou
explodindo em chamas, como os desafortunados que foram tragados pelo Fogo Grego.
Infelizmente isso é verdade, ainda que tratada com certo exagero. A luz do sol,
assim como a chama, queima lhe a pele, e apenas os mais velhos e fortes entre
eles conseguem suportá-la por longos períodos.
Portanto precisam dormir de dia e agir
apenas à noite. Durante o dia são letárgicos, sendo difícil fazer qualquer
coisa além de dormir. Apenas aqueles entre nós que ainda não deixaram a
natureza humana muito para trás são capazes de agir enquanto o sol está alto
no céu.
Crucifixos, água benta e outros símbolos
religiosos devem ser ignorados _ a Igreja sempre foi o primeiro refúgio dos
mortais confrontados com coisas que lhes ultrapassam a compreensão _
especialmente no passado. Contudo cheguei a ouvir sobre algumas raras ocasiões
nas quais tais objetos foram capazes de causar um desconforto considerável.
Nesses casos, seus portadores quase refulgiam de fé na Divindade, o que leva a
concluir que os objetos religiosos serviram de algum modo para canalizar o poder
dessa fé. Ignores, todavia, os ardis do cinema, com seus candelabros cruzados e
sombras de pás de moinhos.
As pretensas propriedades do alho, assim
como do acônito e de outras ervas são, da mesma forma, mera superstição.
Esses vegetais repelem os vampiros tanto quanto fazem com a maioria dos mortais,
a despeito da cantilena das mulheres que os vendiam. Como a Igreja, as
curandeiras de aldeia eram muito requisitadas para usar sua "magia"
contra vampiros, obtendo os mesmos resultados pífios.
Os cineastas familiarizaram o grande público
com outras fraudes. Por exemplo, podemos ver nossos próprios reflexos no
espelho, embora alguns de nós finjam o contrário em honra a essa grande tradição
cinematográfica. Da mesma forma, podemos aparecer em película. É igualmente
absurdo presumir que um vampiro não possa transitar da maneira que desejar. Os
Cainitas (um dos termos deles para designa-los ) podemos entrar em qualquer casa
e lar que quisermos a qualquer momento. Da mesma forma, é despropositado
acreditar que um vampiro não seja capaz de cruzar água corrente. A água não
exerce qualquer efeito sobre nós. Como não mais respiramos, não podemos ser
afogados. Embora a submersão possa vir a ser uma experiência desagradável e
resultar em algum grau de deterioração física caso seja prolongada, nenhum
vampiro morreu unicamente devido a isso; entretanto, há rumores de que algumas
linhagens são sensíveis a um contato vis-a-vis com a água. Aliás, foi
provavelmente assim que muitas crenças sobre nós se originaram, uma vez que várias
linhagens sofrem de fraquezas que foram passadas sucessivamente pelo senhor à
sua Prole.
Caso a forma humana não seja apropriada aos
seus desígnios, o vampiro cinematográfico é capaz de assumir diversas formas:
lobo, morcego, névoa _ e, em algumas histórias também o gato e alguns pássaros
noturnos, como o mocho. Os Anciões desfrutam de poderes extraordinários e não
mais desdenho das histórias de mudança de forma. Porém, os indivíduos das
gerações mais novas raramente os possuem. Assim, asseguro-te: um vampiro que
possua forma plural pertencerá a uma raça rara, ao clã Gangrel, ou será
muito velho, sábio e poderoso.
Contudo, muitos deles possuem habilidades
que um mortal consideraria sobrenaturais. Como predadores, seus sentidos são
aguçados, e alguns desenvolvem outros talentos para ajudar na caçada. Um
exemplo: a habilidade de inspirar medo, paralisia, obediência e outras reações
emocionais é bastante útil, embora os escritores populares as tenham enfeitado
em benefício de suas histórias.