"C'est
alors que ma voix
murmure un nom tout bas... c'est alors que le vois
M'apparaître à demi, jeune, voluptueuse,
Sur ma couche penchée une femme amoureuse!
Oh! toi que j'ai rêvée,
Femme à mes longs baisers si souvent enlevée
Ne viendras-tu jamas?"
Ch. Dovalle
O Livro dos Demônios
- Antonio Augusto Fagundes Filho
- Nome: Lilith
Em Hebraico: "A Noturna", de "Layil" - noite
Em Grego - Hécate: "A Que Fere de Longe", Antaia: "A Que
Alcansa"
- Cargo:
Suprema Rainha da Noite
Sacerdotisa Suprema do Mal
Diretora de Pessoal
- Referências:
Isaías 34, 14 e o "Zohar"
- Aspecto:
Em sua condição de Soberana das Trevas é, logicamente, um dos espíritos mais
poderosos e sofisticados em suas manifestações e aparências. Segundo o
observador ou a vítima, ela assume a forma mais sedutora ou mais tenebrosa do
"Eterno Feminino" de cada um. Para mim, com certeza, ela é o maior
perigo que o Reino do Mal oferece, pois todo homem lhe é presa fácil, indefeso
ao seu fascínio como um leitão frente a uma tigresa. Por isso nossos encontros
foram tão perigosos: porque ela toma a forma de todos os meus Desejos e se
desdobra graciosamente em infinitas variações de si mesma, como a Mulher em
todas as mulheres. Ai de mim, réu confesso, pobre pecador ainda não
arrependido mas que busca a Salvação na Miserircórdia Divina. Para mim ela
surge como em sua clássica aparência da Antigüidade: uma linda mulher
silenciosa de longos cabelos lisos e negros como a Solidão mais profunda, ou
como a coruja, pantera negra, uma loba enorme. Também as não tantas mulheres
que eu tive, bem como as inúmeras que eu não tive nunca, todas as formas são
usadas por ela com infalível ritmo e demolidora psicologia. Impossível ser
mais explícito. Tem o olhar mais fascinante e mais perigoso de todo o Inferno.
- Características:
O primeiro prazer que ela sabe dar é o da sua extrema inteligência e diabólica
sensibilidade para prender a atenção e excitar o desejo em suas vítimas. Para
Lilith tudo, até o pensamento, é pura volúpia, secreta fúria, amargo prazer
eternamente insatisfeito. Na verdade, os ANtigos faziam justiça quando a
chamavam de "guinchadora", pois sua voz e suas idéias são por demais
agudas, cortantes incisivas como punhais. O que mais me revoltou foi o fato de
para ela eu parecer não previsível, o que me deu certeza de que a seus olhos
os homens são ridiculamente primitivos, tão grosseiros quanto úteis... Desde
que abandonou Adão e, revoltada com o Criador, estabeleceu seu reino no
deserto, não parece ter aprimorado seu conceito sobre isso, muito pelo contrário.
Para ser mais preciso, ao falar com ela muitas vezes tive a nítida impressão
de que ainda se dirigia a Adão ao falar comigo, ressentida e queixosa como uma
ex-mulher, insinuante e insistente como uma prostituta faminta. Com
impressionante capacidade artística, ela defende seus pontos de vista com o
inesgotável estoque de seus adornos e artifícios, numa teia onde a aranha não
está particularmente apressada mas está sempre faminta. Ao invés de perseguir
suas presas, ela prefere atraí-las, ou atrair-nos, pois é mais prático e mais
cômodo, numa visão, alias, bem feminina. Sua eficiência e precisão são tão
extremas que as legiões sob o seu comando são como a Tropa de Elite, o Esquadrão
Ninja, o Comando de Operações Especiais do Inferno. Quando ninguém sabe mais
o que fazer, ela sabe, e o fará com ódio frio e ardente profissionalismo.
Ninguém sabe mais sobre Relações Públicas ou íntimas do que ela, por isso
é sua a função de determinar o demônio certo para cada missão, bem como de
suspendê-los, promovê-los ou puni-los. Também chefia o Departamento de
Inteligência e o Serviço Secreto do Inferno, juntamente com Nergal. Como
responsável pelo tormento do Ciúme e pelas loucuras maldosas que se faz quando
apaixonado, é a Conselheira Nefasta dos Desesperados, a Voz do Desengano, do
Conformismo com a morte do Coração. Uma coisa é certa: não é Amor o que ela
inspira, mas uma paixão febril pelo Desamor de nossa própria Vida. Por sua
inspiração grandes artistas como Baudelaire, Modigliani, Salvador Dali e Edgar
A. Poe, só para citar os meus prediletos, deixaram marcas profundas como de
garras na História da Cultura Moderna, mas todos pagaram muito caro por isso.
Ninguém escapa imune ao seu contato: ela adora o que faz... Como a sombra cega
da Mãe-Natureza ela é a Noite voraz multiplicada em ânsias, gerando monstros
no espaço escuro onde esquecemos nossa sede de ternura e onde o poder do
carinho agonizou sem testemunhas. Lilith é a Rainha de Sabá, que veio de longe
para testar Salomão com enigmas, é Messalina, que nunca estava satisfeita, é
a Bruxa Má, a Primeira e a última, a Prostituta da Babilônia, embriagada com
o sangue dos Mártires e dos Profetas, assentada sobre as Nações. É a
Mulher-Raposa, a Estrangeira, a Castradora, a Devoradora cruel, a Princesa
Maligna, a face mais bela do Mal e o caminho mais doce para a Morte. Jamais
ofenderia a inteligência do paciente leitor tentando disfarçar que tive medo,
sim, e tremi, e temi que meu corpo animal arrastasse consigo minha alma. Do
fundo sem fim de meu terror ergueu-se uma prece ao Altíssimo, que me instruiu a
responder assim à infiel, à Mãe Terrível de todas as delícias: "- Meu
corpo é o Templo do Senhor, oh Peregrina, e tanto quanto minha alma, não será
profanado. Para os que são puros tudo é pureza e tudo coopera para o bem dos
que amam a Deus. Se muito errei foi por loucura de Amor, mas permaneço um homem
reto perante a Vida, e não cabe a ti esse juízo. Deus é Amor e criou o Prazer
para celebrarmos a Vida, e não há nele nada de maligno ou de degradante como
tu o fazes em tua perfídia, para que nunca estejamos setisfeitos, como tu
mesma. Sabes bem o quanto amei e desamei, quanto traí e fui traído e não
podes negar que mesmo assim ainda sigo amando, talvez até enganado, no mínimo
como uma susperação de mim mesmo e como um voto de Sacrifício e de Confiança
no Amor de Deus, do qual o meu é um mísero reflexo, mas que permanece para
sempre Sagrado. Apesar do meu despreparo para a responsabilidade inédita de
amar e ser feliz, ainda creio que o Amor impera tanto em mim quanto em todo o
Universo. Bebi em tuas fontes e foi veneno para minha alma. Conheço teu poder e
o rejeito: procuro a Água da Vida nos braços da mulher que eu amo, fazendo
amor de olhos abertos, como um homem livre celebrando a Vida, como águias
voando em direção ao Sol".
Lilith, a Rainha da Noite De acordo com J. Gordon
Melton, "Lilith, uma das mais famosas figuras do folclore hebreu,
originou-se de um espírito maligno, tempestuoso e que mais tarde se
identificaou com a noite. Fazia parte de um grupo de espíritos malignos demoníacos
dos americanos que incluíam Lillu, Ardat Lili e Irdu Lili." Segundo ele,
Lilith apareceu também no Gilgamesh Epic babilônico (aproximadamente 2000 a.
C.) como uma prostituta vampira que era incapaz de procriar e cujos seios
estavam secos. Foi retratada como uma linda jovem com pés de coruja
(indicativos de vida noctívaga) que fugiu de casa perto do Rio Eufrates e se
estabelece no deserto. Lilith aparece no Antigo Testamento quando Isaías ao
descrever a vingança de Deus, durante a qual a Terra foi transformada num
deserto, proclamou isso como um sinal de desolação: "Lilith repousará lá
e encontrará seu local de descanso" (Isaías 34:14) Lilith aparece em
relatos da Torah assírio-babilônica e hebraica entre outros textos apócrifos.
Na versão jeovística (da tradição religiosa hebraica) para o Gênesis,
enriquecida pelos testemunhos orais dos rabinos consta que Lilith foi criada com
pó negro e excrementos, condenada por Jeová-Deus a ser inferior ao homem.
Considerando-se que Adão vivia no Jardim do Éden no pleno equilíbrio de sua
sagrada androginia (pois fora criado a imagem e semelhança do criador),
compreende-se como o surgimento da primeira mulher fez nascer um distanciamento
entre Deus e Homem. Num outro texto, um comentário bíblico do Beresit-Rabba
(rabi Oshajjah) a primeira mulher é descrita cheia de saliva e sangue, o que
teria desagradado a Adão, de modo que Jeová-Deus "tornou a criá-la uma
segunda vez".
Lilith, então, veio ao mundo com os répteis e
demônios feitos ao cair da noite do sexto dia da criação, uma sexta feira
(segundo o Bereshit Rabba). Por isso, ela já fora criada como um demônio.
(Lilith é representada como, rainha da Noite, mãe dos súcubos). Consumida a
união carnal com Lilith, Adão teria mergulhado na angústia da paixão, vendo
o seu distanciamento da divindade como um preço pelo êxtase orgasmatico que
nunca sentira. Lilith foi citada pela edição hebraica e inglesa de "The
Babylonian Talmud", organizada pelo rabi Epstein e publicado pela Socino
Press, de Londres, em 1978. Aqui, Lilith aparece um demônio noturno de longos
cabelos, que perturba os homens. Segundo a tradição talmúdica, Lilith é a
"Rainha do Mal", a Mãe dos Demônios e a Lua Negra. No Talmude, ela
é descrita como a primeira mulher de Adão. Ela brigou com Adão, reivindicando
igualdade em relação a seu marido, deixando-o "fervendo de cólera".
Lilith queria liberdade de agir, de escolher e decidir, queria os mesmos
direitos do homem mas quando constatou que não poderia obter status igual, se
rebelou e, decidida a não submeter-se a Adão e, a odia-lo como igual, resolveu
abandona-lo. Segundo as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (século
6 ou 7). Todas as vezes em que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada
em ter de ficar por baixo de Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava:
"Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo?
Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou
tua igual." Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de
que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. Lilith deve
submeter-se a ele pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido.
Vendo que o companheiro não atendia seus apelos,
que não lhe daria a condição de igualdade, Lilith se revoltou, pronuncia
nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão e vai embora; é o momento
em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão
soturna, tal como na ocasião em que Jeová-Deus fez vir ao mundo os demônios.
Adão sente a dor do abandono; entorpecido por um sono profundo, amedrontado
pelas trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. Desperto, Adão
procura por Lilith e não a encontra: Procurei-a em meu leito, à noite, aquele
que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei" (Cântico dos
> Cânticos III, 1).
Lilith partiu rumo ao mar vermelho (Diz-se que
quando Adão insistiu em ficar por cima durante as relações, Lilith usou seus
conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho). Lá onde habitam os demônios
e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica. É um lugar maldito, o que
prova que Lilith se afirmou como um demônio, e é o seu caráter demoníaco que
leva a mulher a contrariar o homem e o questionar em seu poder. Desde então,
Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal do SITRA ACHRA
(aramaico, significa "outro lado"). Como conseqüência, deu à luz
toda uma descendência demoníaca, conhecida como "Liliotes ou
Linilins", na prodigiosa proporção de cem por dia. [Alguns escritos
contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para compensar a
tristeza de Adão, Deus resolveu criar Eva, moldada exatamente como as exigências
da sociedade patriarcal. A mulher feita a partir de um fragmento de Adão. É o
modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão. A
mulher submissa e voltada ao lar. Assim, enquanto Lilith é força destrutiva (o
Talmude diz que ela foi criada com "imundície" e lodo), Eva é
construtiva e Mãe de toda Humanidade (ela foi criada da carne e do sangue de Adão).]
Jehová-Deus tenta salvar a situação, primeiro ordenando-lhe que retorne e,
depois, enviou ao seu encalço uma guarnição de três anjos, Sanvi, Sansavi e
Samangelaf, para tentar convencê-la; porém, uma vez mais e com grande fúria,
ela se recusou a voltar. Lilith está irredutível e transformada. Ela desafiou
o homem, profanou o nome do Pai e foi ter com as criaturas das trevas. Como
poderia voltar ao seu esposo? Os anjos ainda ameaçaram: "Se desobedeces e
não voltas, será a morte para ti." Lilith , entretanto, em sua sapiência
demoníaca, sabe que seu destino foi estabelecido pelo próprio Jeová-Deus. Ela
está identificada com o lado demoníaco e não é mais a mulher de Adão. (Uma
outra versão conta que esses mesmos anjos, a teriam condenado a vagar pela
terra para sempre).
Acasalando-se com os diabos, Lilith traz ao mundo
cem demônios por dia, os Lilim, que são citados inclusive na versão
sacerdotal da Bíblia. Jeová-Deus, por seu lado, inicia uma incontrolável
matança dessas criaturas, que, por vingança, são enfurecidas pela sua
genitora. Está declarada a guerra ao Pai. Os homens, as crianças, os inválidos
e os recém-casados, são as principais vítimas da vingança de Lilith. Ela
cumpre a sua maligna sorte e não descansará assim tão cedo. [Uma outra versão
diz que foram os anjos que mataram os filhos que tivera com Adão. Tão rude
golpe transformou-a, e ela tentou matar os filhos de Adão com sua segunda
esposa, Eva. Lilith Alegou ter poderes vampíricos sobre bebês, mas como os
anjos a queriam impedir, fizeram-na prometer que, onde quer que visse seus
nomes, ela não faria nenhum mal aos humanos. Então, como não podia vencê-los,
ela fez um trato com eles: concordou em ficar afastada de quaisquer bebês
protegidos por um amuleto que
tivesse o nome dos três anjos.
Não obstante, esse ódio contra Adão e contra
sua nova (e segunda) mulher, Eva, resultou, para Lilith, no desabafo da sua fúria
sobre os filhos deles e de todas as gerações subseqüentes]. A partir daí,
Lilith assume plenamente sua natureza de demônio feminino, voltando-se contra
todos os homens, de acordo com o folclore assírio, babilônico e hebraico. E são
inúmeras as descrições que falam do pavor de suas investidas. Conta-se, por
exemplo, que Lilith surpreendia os homens durante o sono e os envolvia com toda
sua fúria sexual, aprisionando-os em sua lasciva demoníaca, causando-lhes
orgasmos demolidores. Ela montava-lhes sobre o peito e, sufocando-os (pois se
vingava por ter sido obrigada a ficar "por baixo" na relação com Adão,
conduzia a penetração abrasante. Aqueles que resistiam e não morriam ficavam
exangues e acabavam adoecendo. Por isso Lilith também está identificada com o
tradicional vampiro. Seu destino era seduzir os homens, estrangular crianças e
espalhar a morte. Lilith Permaneceu como um item de tradição popular embora
pouco tivesse sido escrito sobre ela quando da compilação do Talmude (século
6 a.C.) até o século 10. Sua biografia se expandiu em detalhes elaborados e
muitas vezes contraditórios nos escritos dos antigos países hassídicos.
Durante os primeiros séculos da era cristã, o mito de Lilith ficou bem
estabelecido na comunidade judaica. Lilith aparece no Zohar, o livro do
Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente
texto hassídico e no Talmud, o livro dos hebreus. No Zohar, Lilith era descrita
como succubus, com emissões noturnas citadas como um sinal visível de sua
presença. Os espíritos malignos que empesteavam a humanidade eram,
acreditava-se, o produto de tais uniões. No Zohar Hadasch (seção Utro, pag.
20), está escrito que Samael - o tentador - junto com sua mulher Lilith, tramou
a sedução do primeiro casal humano.
Não foi grande o trabalho que Lilith teve para
corromper a virtude de Adão, por ela maculada com seu beijo; o belo arcanjo
Samael fez o mesmo para desonrar Eva: E essa foi a causa da mortalidade humana.
O Talmude menciona que "Quando a serpente envolveu-se com Eva, atirou-lhe a
mácula cuja infecção foi transmitida a todos os seus descendentes...
(Shabbath, fol. 146, recto)". Em outras partes, o demônio masculino leva o
nome de Leviatã, e o feminino chama-se Heva. Essa Heva, ou Eva, teria
representado o papel da esposa de Adão no éden durante muito tempo, antes que
o Senhor retirasse do flanco de Adão a verdadeira Eva (primitivamente chamada
de Aixha, depois de Hecah ou Chavah). Das relações entre Adão e a
Heva-serpente, teriam nascido legiões de larvas, de súcubos e de espíritos
semiconscientes (elementares). Os rabinos fazem de Leviatã uma espécie de ser
andrógino infernal, cuja a encarnação macho (Samael) é a "serpente
insinuante" e a incarnação fêmea (Lilith), é a "cobra
tortuosa" (ver o Sepher Annudé-Schib-a, fol. 51 col. 3 e 4). Segundo o
Sepher Emmeck-Ameleh, esses dois seres serão aniquilados no fim dos tempos:
"Nos tempos que virão o Altíssimo (bendito seja!) decapitará o ímpio
Samael, pois está escrito (Is. XVII, 1): 'Nesse tempo Jeová com sua espada
terrível visitará Leviatã, a serpente insinuante que é Samael e Leviatã, a
cobra tortuosa que é Lilith' (fol. 130, col. 1, cap.XI)".
Também segundo os rabinos, Lilith não é a única
esposa de Samael; dão o nome de três outras: Aggarath, Nahemah e Mochlath. Mas
das quatro demônias, só Lilith dividirá com o esposo a terrível punição,
por tê-lo ajudado a seduzir Adão e Eva. Aggarath e Mochlath tem apenas um
papel apagado, ao contrário do que acontece com as outras duas irmãs, Nahemah
e Lilith. No livro História da Magia, Eliphas Levi transcreve: "Há no
inferno - dizem os cabalistas - duas rainhas dos vampiros, uma é Lilith, mãe
dos abortos, a outra Nahema, a beleza fatal e assassina. Quando um homem é
infiel à esposa que lhe foi destinada pelo céu, quando se entrega aos
descaminhos de uma paixão estéril, Deus retoma a esposa legítima e santa e
entrega-o aos beijos de Nehema. Essa rainha dos vampiros sabe aparecer com todos
os encantos da virgindade e do amor; afasta o coração dos pais, leva-os a
abandonar os deveres e os filhos; traz a viuvez aos homens casados, força os
homens devotados a Deus ao casamento sacrílego. Quando usurpa o título de
esposa, é fácil reconhece-la: no dia do casamento está calva, porque os
cabelos das mulheres são o véu do pudor e está proibido para ela neste dia;
depois do casamento finge desespero e desgosto pela existência, prega o suicídio
e afinal abandona violentamente aquele que resistir, deixando-o marcado com uma
estrela infernal entre os olhos. Nahema pode ser mãe, mas não cria os filhos;
entrega-os a Lilith, sua funesta irmã, para que os devore." (Sobre isso
pode-se ver também o Dicionário Cabalístico de Rosenhoth e o tratado De
Revolutionibus Animorum, 1.° e 3.° tomos da Kabala Denudata, 1684, 3 col.
in-4.) Diz a lenda que depois que Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden,
Lilith e suas asseclas, todas na forma de incubus/succubus, os atacaram, fazendo
assim com que Adão procriasse muitos espíritos impuros e Eva mais ainda.
Segundo a tradição judaica, Lilith faz os homens terem poluções noturnas
para gerar filhos demônios . Há um costume, ainda praticado em Jerusalém, de
espantar esses filhos do corpo morto de seu pai, andando em círculo com o cadáver
antes do sepultamento e atirando moedas em diferentes direções para distrair
os filhos demônios.
Durante a idade média, as histórias sobre Lilith
se multiplicaram. Já foi, por exemplo, identificada como uma das duas mulheres
que foram ao Rei Salomão para que ele decidisse qual das duas era a mãe de uma
criança que ambas reivindicavam. Em outros escritos, foi identificada como a
rainha de Sabá. Segundo uma antiga tradição judaica, Lilith apareceu a Salomão
disfarçada na rainha de Sabá, uma visitante real da Etiópia ou da Arábia à
corte do rei Salomão (I Reis 10). Sabá era um país pacífico, cheio de ouro e
prata, cujas plantas eram irrigadas pelos rios do Paraíso. Por ter ouvido falar
relatos sobre o seu maravilhoso país, o Reino de Sabá, e sua rainha de uma
ave, cuja linguagem compreendia, Salomão desejava muito conhecer a rainha e ela
desejava conhecê-lo devido à sua reputação de sábio, e queria fazer-lhe
perguntas sobre magia e feitiçaria. Mas ele suspeitou que algo estava errado e
conseguiu ludibria-la: Quando chegou, encontrou-o sentado em uma casa de vidro,
e pensando que fosse água, levantou a saia, revelando pernas bem cobertas de pêlos,
o que indicava que ela uma feiticeira. Não obstante, Salomão desposou-a e
preparou uma poção para eliminar o pêlo de suas pernas. Conta-se, que a casa
real da Etiópia alegava ser descendente da união de Salomão com a Rainha de
Sabá, e os judeus negros da Etiópia, os falashes, localizam suas origens nos
israelitas que o rei Salomão enviou com a rainha para a Etiópia. Outro
descendente dessa união foi Nabucodonosor, que se tornou rei da Babilônia. Uma
tradição totalmente diferente nega que tenha sido uma rainha quem veio visitar
Salomão, afirmando que foi o rei de Sabá. Proteção conta Lilith: Lilith foi
descrita como uma figura sedutora com longos cabelos, que voa como uma coruja
noturna para atacar aqueles que dormem sozinhos, para roubar crianças e fazer
mal a bebês recém-nascidos. Foi encontrada entre os elementos mais
conservadores da comunidade judaica do século 19, uma forte crença na presença
de Lilith, sendo que alguns deles podem ser visto ainda hoje. Lilith foi
descrita como uma assassina de crianças para roubar suas almas. Ela atacava os
bebês humanos, especialmente os nascidos de relações sexuais inadequadas. Se
não consegue consumir crianças humanas ela come até mesmo sua própria prole
demoníaca.
Também é de opinião geral que foi Lilith quem
provocou o ódio de Caim contra Abel, seu irmão, e levou-o a revoltar-se contra
ele e matá-lo. Os homens eram alertados para não dormirem numa casa sozinhos
para que Lilith não os surpreendesse. Em "O Livro das Bruxas",
Shahrukh Husain relembrou um antigo conto judeu "Lilith e a Folha de
Capin", de Jewish Folktales, que dizia que certa vez um judeu que foi
seduzido por Lilith e ficou enfeitiçado por seus encantos. Mas ele estava muito
perturbado com isso, e então foi ao Rabino Mordecai de Neschiz para pedir
ajuda. Mas o rabino sabia por clarividência que o homem estava vindo, e avisou
a todos os judeus da cidade para não deixa-lo entrar em suas casas ou dar-lhe
lugar para dormir. Assim, quando o homem chegou não encontrou nenhum lugar para
passar a noite e deitou-se num monte de feno num quintal. À meia-noite, Lilith
apareceu e sussurrou-lhe: "Meu amor, saia desse feno e venha até
aqui". Curioso, o homem perguntou: "Por que eu deveria ir até você?
Você sempre vem a mim." Ela explicou-se dizendo: "Meu amor, nesse
monte de feno há uma folha de capim que me causa alergia". O homem
perguntou: "Então por que você não me mostra? Eu a jogo fora e você
pode vir." Assim que Lilith a mostrou, o homem pegou a folha de capim e
enrolou em seu pescoço, livrando-se para sempre do domínio dela. Lilith foi
marcada como sendo especialmente odiosa para o acasalamento sexual normal dos
indivíduos que ela atacava como succubi e incubi.
Descarregava sua ira nas crianças humanas
resultantes de tais acasalamentos ao sugar-lhes o sangue e estrangulando-as.
Acrescentava, também, quaisquer complicações possíveis às mulheres que
tentassem ter crianças - esterilidade, abortos etc. Por isso, Lilith passou a
assemelhar-se a uma gama de seres vampíricos que se tornavam particularmente
visíveis na hora do parto e cuja presença era usada para explicar problemas ou
mortes inesperadas. Para combatê-los, os que acreditavam em Lilith
desenvolveram rituais elaborados para bani-la de suas casas. O exorcismo de
Lilith e de quaisquer espíritos que a acompanhavam muitas vezes tomava a forma
de um mandado de divórcio, expulsando-os nus noite adentro. Usam-se amuletos
(em hebraico "kemea") como proteção contra demônios, mau olhado,
doença, combater hemorragia nasal ou para fazer uma mulher estéril conceber,
tornar fácil o parto, garantir a felicidade de um recém nascido, obter
sabedoria e outros fins. Esses amuletos são textos e desenhos geralmente
escritos em pequenos pedaços de pergaminho e incluem sinais mágicos, permutações
de letras e os nomes de Deus (Agla, Tetragramaton, etc.) ou de anjos como o de
Rafael, Gabriel ou dos poderosos anjos Sanvi, Sansavi e Samangelaf que garantem
proteção contra Lilith, que ataca as mulheres no parto e causa a morte dos
infantes. O amuleto é usado em volta do pescoço ou às vezes pendurado numa
parede de casa. Para que um amuleto seja considerado eficaz, tem que ser escrito
por uma pessoa santa (segundo a tradição judaica), exímia na prática da
Cabala. Se a ele se mostrar eficaz na cura de alguém em três ocasiões
diferentes, será então, comprovadamente, considerado um amuleto. Embora,
aparentemente, amuletos tenham sido amplamente usados no período talmúdico,
Maimônides e outros rabinos de mente mais voltada para a filosofia, como
Ezequiel Landau, opunham-se a eles, considerando-os superstições vazias. Seu
uso, no entanto, foi apoiado pelos místicos e pela crença popular. Até mesmo
os cristãos buscavam amuletos com os judeus na Idade Média.
Em muitas partes do mundo atual há pessoas que
ainda usam amuletos representando os três Anjos que foram enviados em busca de
Lilith (ou Lilah, como também é chamada, o que talvez nos tenha dado Da-Lila,
também uma sedutora e tentadora.) Esses talismãs são usados porque, embora
Lilith se recusasse a voltar, prometeu a esses três Anjos que, se visse os seus
nomes inscritos junto de um recém-nascido, ela deteria sua mão e o pouparia -
o que vem a ser o propósito do ritual. Um talismã típico é um círculo mágico
no qual as palavra "Eva e Adão" barram a entrada de Lilith,
habitualmente escritas com carvão na parede do aposento onde a criança está e
em cuja porta estão escritos os nomes dos três anjos. A alternativa: "Não
deixem Lilith entrar aqui" costuma ser escrita na cabeceira da cama da
mulher que espera um filho, usando-se tinta vermelha (cor da planta de Marte).
Como proteção contra ela costumava-se pendurar amuletos e talismãs na parede
e sobre a cama para mantê-la afastada ou pregar amuletos com as palavras
"Adão e Eva excluindo Lilith" nas paredes da casa em que uma mulher
se preparava para o nascimento do filho. No passado, o processo de nascimento
era cercado de práticas mágicas com a intenção de proteger a mãe e o filho
das forças demoníacas. Lilith tem inveja da alegria da maternidade, pois foi
apartada do marido (Adão) logo no início de seu casamento. Ela constitui assim
uma ameaça ao embrião. Também se sussurravam sortilégios no ouvido das
mulheres para facilitar o trabalho de parto. A porta do quarto das crianças
tinha os nomes dos três anjos escritos sobre ela, e, às vezes, cercava-se o
quarto com um círculo de carvões ardentes. Nas vésperas de Shabat e da lua
nova, quando uma criança sorri é porque Lilith está brincando com ela. Para
livrá-la de qualquer mal, deve-se bater de leve três vezes em seu nariz
pronunciando-se uma fórmula de proteção contra Lilith. Também crianças que
riam no sono, acreditava-se, estavam brincando com Lilith e daí o perigo de
morrerem em suas mãos.
Na Idade Média era considerado perigoso beber água
nos solstícios e equinócios, porque nessa época o sangue menstrual de Lilith
pingava, poluindo líquidos expostos. Parece que Lilith é mais bondosa com as
meninas porque estas só podem correr o risco da hostilidade a partir dos vinte
anos, enquanto os meninos estão sob a mira das suas perversidade e malevolências
até o seu oitavo aniversário. Num livro sobre "Magia das velas",
encontramos uma versão moderna de um Talismã de Proteção Contra Lilith:
"Se você quiser fazer um talismã de altar que o proteja de Lilith, e ele
não precisa ficar restrito a esse uso, pode fazê-lo da seguinte maneira: pegue
uma folha de papel forte, branco (o tamanho dependerá do espaço disponível).
Desenhe nela um grande círculo preto, e dentro desse círculo desenhe outro
menor. Divida esse círculo interior em três partes iguais de 120° e faça
pequenas marcas nessas pontas. Una essas marcas para fazer um triângulo no
centro do talismã. Nos três pontos em que o triângulo toca o círculo
interior, entre o círculo interior e o exterior, escreva os três nomes angélicos
- Sanvi, Sansavi e Semengalef - no sentido horário, um em cada ponta do triângulo.
No meio do trecho, entre esses nomes, desenhe uma cruz. Coloque a vela para
Lilith no centro do triângulo (Lilith é representada por uma vela branca que
se tornou negativa com cera preta ou por uma vela preta), com uma vela para cada
um dos três anjos do lado de fora do círculo exterior, , em oposição aos
seus nomes (pode marcar as velas, se desejar) na ponta do triângulo. Só que não
se deve deixar de observar infalivelmente neste ou em qualquer outro talismã, o
seguinte: a linha que desenha o círculo exterior deve ser inteira, sem falhas,
sem interrupções. Se necessário, desenhe-o de forma extraforte, para obter
isso. Se o que está tentando é conter algo, não deve haver interrupções
através das quais esse algo possa escapar ou engana-lo." Segundo a tradição
judaica, as influencias astrológicas determinam a vida de uma pessoa, mas
Israel é diretamente guiado por Deus. Porém, enquanto os cabalistas e muitos
rabinos medievais acreditavam que os céus eram "o livro da vida" e a
astrologia a "ciência suprema", Maimônides repudiou tais idéias
como superstições proibidas. No mapa astral, Lilith ou Lua Negra indica sedução
e ânsia de liberdade. Influências que atingem nossas personalidades.
A Lua exerce uma influência no inconsciente, nos
sonhos, no sono, na memória, nas emoções e nas reações espontâneas.
Segundo o astrólogo e tarórologo Hermínio Amorim, foi a partir de 1914,
quando Lilith apareceu sob a influência de Plutão, que fez uma órbita longa
até 1938, que as mulheres começaram os movimentos de libertação. Antes,
Lilith aparecia sob influência do signo de câncer. Atualmente as mulheres
vivem melhor sua sensualidade, sem culpa, sem medo de serem acusadas de bruxas,
como antigamente. Os conteúdos psíquicos simbolizados pela Lilith são muitas
vezes interpretados como raiz da libido. É claro que também são percebidos
como geradores de poderes paranormais, inclinação para bruxaria, mediunidade,
etc. De qualquer maneira, é uma potencialidade simbólica e inconsciente. Uma
feminilidade que dura muito tempo foi oprimida e omitida (A Lua Negra. Na Idade
Média foi personificada pela bruxa, contra a qual o homem, e principalmente a
Igreja Católica, moveu uma das mais sangrentas perseguições de toda a sua
história). De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro,
à noite, criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão".
Esse ponto teria sido retirado da Bíblia pela Inquisição. O astrólogo
assinala que ali começou a eterna divergência entre o masculino e o feminino,
pois Lilith não se conformou com a submissão ao homem.