Tudo Sobre o Rock
Os Primórdios Apesar de no
decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros
brancos, deve-se aos negros, escravos trazidos da África para as plantações
de algodão dos Estados Unidos, a criação da estrutura rítmica e melódica
que seria a base do rock. Os cantos entoados pelos negros durante o trabalho, no
início do século XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para
designar pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia). Focado
basicamente no vocal, o blues era geralmente acompanhado apenas por violão.
Enquanto o blues se desenvolvia nos campos e pequenas cidades, nas grandes
cidades por sua vez tocava-se o jazz, baseado na improvisação e marcado por
bandas maiores e arranjos mais elaborados, com percussão e instrumentos de
sopro.
Por um outro lado, nas igrejas evangélicas desenvolvia-se a música gospel
negra, que embora obedecendo as escalas de blues, caracterizavam-se por ritmo
frenético ou mesmo sensual, canções de redenção e esperança para um povo
oprimido. A música era acompanhada por piano ou órgão.
A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria haviam levado mais gente
dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e negros e a
tensão social e racial, mas também favorecendo a influência mútua entre a música
negra (blues e seus derivados) e a música branca (principalmente country e
jazz). Da fusão do blues original com os ritmos mais dançantes dos brancos
surgiu o rhythm and blues, que levou a música negra ao conhecimento da população
consumista.
No início da década de 50, com o final da Segunda Guerra Mundial e da Guerra
da Coréia, os Estados Unidos despontavam como grande potência mundial. Mais do
que em qualquer outro momento da história era incentivado o gozo da vida,
marcada que estava a sociedade pelos anos de sofrimento da guerra. A população
de maneira geral e inclusive as minorias pela primeira vez tinham dinheiro para
gastar com supérfluos como música. Com o anúncio da explosão de bombas atômicas
pela União Soviética e um possível "fim do mundo" a qualquer
momento, a ordem geral era aproveitar cada momento como se fosse o último.
Numa época de mudanças surgia uma corrente intelectual inédita contrária à
antiga política, rebeldia esta refletida na literatura, como no livro O
Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, mas mais notadamente no cinema
com a glorificação da antítese dos antigos valores em filmes como O Selvagem
da Motocicleta (em que Marlon Brando interpreta um delinqüente).
Em pleno crescimento econômico capitalista o consumo era considerado fator
primordial para geração de empregos e divisas, bem como o melhor antídoto
contra o comunismo, e a busca por novos mercados consumidores era incessante.
Obviamente a parcela mais jovem da população rapidamente se mostrou mais
facilmente influenciável e ao público adolescente pela primeira foi dado o
direito de ter produtos destinados ao seu consumo exclusivo, bem como poder de
escolha.
Estranhamente, porém os jovens brancos em grande parte se negavam a consumir a
música normalmente consumida pela maioria branca. Começaram a buscar na música
dos guetos algo diferente. Com a indústria fonográfica de grande porte não
preparada para suprir o público consumidor com este tipo de música ganharam
importância selos pequenos de música negra.
A aceitação deste tipo de música pelo público de maior poder aquisitivo
levou a incipiente indústria fonográfica da época a investir na evolução do
estilo e procura e contratação de novos talentos, principalmente na procura de
um jovem branco que pudesse domar aquele estilo aliando a ele uma imagem que
pudesse ser vendida mais facilmente. Tornaram-se comuns os relançamentos de
versões de músicas dos negros regravadas por artistas brancos, que terminavam
por tirar os verdadeiros criadores do estilo do topo das paradas.
Uma outra grande revolução de costumes estava em curso. Sexo deixava de ser
tabu e passava a ser considerado diversão (tanto para o homem como para as
mulheres). As canções de amor por pressão do público comprador passavam a
dar lugar a letras mais sacanas, embora muitas vezes fosse necessário criar
versões atenuadas de versos mais diretos.
A mistura explosiva da empolgante música negra com o consumismo branco
adolescente havia sido feita... a explosão era questão de tempo...
Mas quem teria sido o homem que mereceria ser coroado como responsável pela
"criação" do rock and roll? Obviamente um estilo musical tão
complexo não poderia Ter sua invenção atribuída incontestavelmente a apenas
um indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém merecesse ter seu nome
associado à "criação" do rock como o conhecemos este alguém não
seria Elvis ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader.
O "inventor" do termo rock and roll e grande responsável pela difusão
do estilo foi o disk jokey Allan Freed, radialista de programas de rhythm and
blues de Cleveland, Ohio, que primeiro captou e investiu na carência do público
jovem consumista por um novo tipo de música mais energética e primeiro
percebeu o potencial comercial da música negra.
O termo rock and roll era uma gíria dos negros americanos, referente ao ato
sexual, presente inclusive em muitas letras de blues (a exemplo de My Daddy
Rocks Me With a Steady Roll da cantora Trixie Smith, de 1922). Allan Freed foi o
responsável por usar o nome sonoro para denominar o novo estilo musical em que
estava investindo.
Em 1951 Allan Freed criou o programa Moon Dog Show mais tarde renomeado para
Moon Dog Rock and Roll Party ao mesmo tempo em que promovia festas de dança com
o mesmo nome, movidas inicialmente a blues e rhythm & blues e mais tarde
pelo ritmo que havia ajudado a definir e divulgar. Suas festas apesar dos
constantes atritos e reclamações por parte das autoridades eram um sucesso.
Tumultos lhe valeram dezenas de processos por incitação à violência.
Enquanto a juventude adotava o novo ritmo como sua marca registrada os adultos,
principalmente das parcelas mais conservadoras da sociedade, a taxavam como
causa de toda delinqüência juvenil... apesar do exagero dos protestos, não
estavam de todo errados, o gosto pelo rock era realmente parte do estilo das
gangues juvenis
- Anos 50
Musicalmente falando, quem primeiro definiu o estilo rock and roll foi Bill
Haley, que baseado principalmente no country criou uma batida diferente
acentuada no segundo e quarto tempos de uma marcação 4x4. A data mais
comumente aceita como a da criação do rock and roll é a do lançamento da música
(We’re Gonna) Rock Around The Clock de Bill Haley and The Comets, em 12 de
Abril de 1954, embora dezenas de gravações anteriores já apresentassem um ou
outro fator do que viria a se cristalizar como rock and roll (o próprio Bill
Haley havia gravado no mesmo ano, um pouco antes, a música Shake Rattle and
Roll).
O sonho de encontrar um branco capaz de cantar como um negro havia sido
realizado por Sam Phillips, de um pequeno selo chamado Sun Records. Em seu início
de carreira com o single de Thats All Right e Blue Moon of Kentucky, logo
seguido por Good Rockin’ Tonight e I Don’t Care If The Sun Dont Shine,
poucos poderiam acreditar que o Elvis Presley que ouviam no rádio era um
branco. Obviamente parecia mais saudável à sociedade conservadora e racista
aceitar aquele tipo de música vindo de um rapaz com rosto de bom moço.
Qualquer boa intenção, porém era desmentida pela maneira agressiva e sensual
de dançar.
Embora criado um ano antes o rock and roll só viria a explodir definitivamente
em 1955, em grande parte influenciado pela inclusão de Rock Around The Clock
como música de abertura do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência)
sobre relações tumultuadas entre alunos e professores (uma analogia a algo
muito mais amplo, o relacionamento entre o stablishment e a ânsia por mudanças).
Uma juventude a cada dia mais delinqüente e em busca de heróis sem relações
com heróis do passado rapidamente adotou (para pavor da parcela mais
conservadora da sociedade) a rebeldia (mesmo que sem causa) como exemplo a ser
seguido, e por tabela a música do filme como catalisador desta rebeldia.
Obviamente o novo tipo de música passou rapidamente a ser associado à degeneração
da juventude, o que tornava ainda maior seu fascínio, em um ciclo vicioso
irresistível.
E quando todos pensavam que nada pior poderia influenciar em tão grande escala
a juventude americana eis que um negro, Chuck Berry, sobe às paradas com uma
versão para o hit country Ida Red, renomeado para Maybelline (da qual consta o
nome de Allan Freed como autor embora este não tenha ajudado na composição).
Embora nunca tenha conseguido para si o título que lhe poderia ser devido de
rei do rock (usurpado pelo branco Elvis) sua importância nunca foi discutida.
Ainda mais assustadora para os conservadores, porém seria a aparição nas
paradas de um segundo negro, Little Richard, este ainda por cima afeminado,
maquiado e com um penteado no mínimo exótico, cantando em seu primeiro verso o
que viria a ser para sempre o grito de guerra mais conhecido do rock and roll, tão
indecifrável quanto contagiante... "a wop bop a loo bop a lop bam
boom".. a música... Tutti Frutti.
A prova definitiva de que o rock and roll seria a mais lucrativa música de
consumo dos próximos anos viria com o pagamento de inéditos 45.000 dólares
pelo passe de Elvis Presley (que chegara a ser aconselhado a voltar a dirigir
caminhões menos de dois anos antes) para a gravadora major RCA Victor.
Em 1956 enquanto Elvis Presley consolidava seu sucesso com novos hits como
Heartbreak Hotel, Blue Suede Shoes (que deveria ter sido lançada pelo seu
autor, Carl Perkins, não tivesse este sofrido um grave acidente de carro que o
deixou paralisado um ano) e regravações de músicas já consagradas como Tutti
Frutti (com Little Richard) e Shake Rattle and Roll (com Bill Haley) tornava-se
urgente para outras gravadoras achar artistas que pudessem rivalizar Elvis ou ao
menos conseguir alguma repercussão usando de seu estilo.
A Sun tentando se livrar do estigma que a perseguiria de ser apenas a gravadora
que descobriu Elvis e o vendeu por (apenas depois isso seria óbvio) uma
ninharia, lançava Roy Orbison com Ooby Dooby. Como pianista já tinha em seus
estúdios aquele que viria em pouco tempo a ser seu grande trunfo e tentativa
mais eficiente de igualar o sucesso de Elvis, Jerry Lee Lewis. A Capitol Records
responderia a Elvis com Gene Vincent and The Blue Caps, marcado pelo estilo do
vocalista que balançava em torno de sua perna parada (na verdade paralisada em
virtude de um acidente de moto) e pelo hit Be Bop A Lula.
Com uma sonoridade um pouco diferente, mais marcada pela música negra de
origem, principalmente gospel, começava a despontar o talento de James Brown
com o quase soul Please Please Me.
Já sobre o comando do empresário Tom Parker o talento de Elvis era aproveitado
também no cinema no filme The Reno Brothers, logo renomeado para Love Me Tender
em virtude do grande sucesso da canção tema. Não tardam a aparecer outros
filmes com participações de astros do rock, como Rock Around The Clock e
Don’t Knock The Rock (apresentando Bill Haley e Allan Freed), The Girl Can’t
Help It (Little Richard, Gene Vincent, Eddie Cochran), entre outros. Enquanto
isso, na Inglaterra, com algum atraso, o filme Blackboard Jungle levava o rock
and roll ao reino unido.
Com o alistamento obrigatório de Elvis Presley nas forças armadas em 1957 o
fim do rock and roll foi anunciado pela primeira vez. Afinal o que haveria neste
ritmo que o poderia fazer mais durável do que tantos outros como o cha-cha-cha,
a rumba, o calipso, o mambo?
Contrariando todas as previsões novos hit makers surgem de onde menos se
espera. Se juntando à banda Crickets o até então inexpressivo Buddy Holly, de
Nashville, prova com os hits açucarados That Will Be The Day e Peggy Sue que o
rock poderia ser domado e usado associado a um bom moço e letras românticas
sem segundas intenções.
As esperanças de menos rebeldia e dias mais calmos no radio não se
concretizariam, obviamente. Seja por lançamentos como School Days de Chuck
Berry (uma ode ao fim das aulas) ou pela explosão tardia de Jerry Lee Lewis com
Crazy Arms e Whole Lotta Shakin’ Going On.
Com o ingresso de Elvis nas forças armadas (a despeito de este ter deixado
gravado material para dezenas de lançamentos e um filme gravado, King Creole)
Jerry Lee Lewis era o candidato natural para seu posto, rebelde, carismático...
e branco. Seu apelo ao público era proporcional ao seu ego e Great Balls Of
Fire rapidamente se tornou o sucesso do ano de 1958. Sua carreira viria a
derrocar de maneira tão meteórica quanto surgira em virtude de vir a público
seu casamento com a prima de 13 anos, Myra Gale Brown, e de ele nem ao menos ter
tido o cuidado de desmanchar um de seus casamentos anteriores, sendo, portanto
um bígamo, o que era demais para a sociedade da época.
1958 vê ainda Chuck Berry lançar dois dos maiores clássicos do rock de todos
os tempos, Sweet Little Sixteen (sim, sobre garotas adolescentes) e Johnny B.
Goode (quase auto biográfica). O Rock bonzinho e romântico por sua vez reage
com All I Have To Do dos Everly Brothers. James Brow lança seu primeiro grande
hit, Try Me.
O ano negro de 1959 começou marcado pelo acidente de avião que em janeiro, em
Clear Lake, Iowa, matou Buddy Holly, Big Booper e o recém descoberto mechicano
Ritchie Valens (do sucesso La Bamba). Após uma apresentação conjunta durante
uma mal-sucedida turnê de inverno chamada Winter Dance Party, o avião que
transportava o grupo de uma cidade para outra, em meio a uma tempestade de neve
e com um piloto inexperiente, caiu pouco após a decolagem, não deixando
sobreviventes.
A década termina com Chuck Berry sendo preso por cruzar uma fronteira estadual
com uma prostituta (que teoricamente havia sido contratada para trabalhar em um
clube de sua propriedade em Saint Louis). Seu grande crime obviamente era ser
negro em uma sociedade racista e ter alcançado tanto sucesso. Berry foi julgado
e condenado a dois anos de cadeia.
Os fatos citados acima eram emblemáticos e fáceis de notar, mas os problemas
do rock não se reduziam a estes. O estilo estava gasto em virtude da
superexposição e mesmo grandes nomes como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis
estavam tomando o caminho mais lucrativo do country. Elvis Presley, de volta de
seu serviço nas forças armadas, passaria de rockeiro rebelde a entertainer
familiar, gravando praticamente apenas baladas. A juventude finalmente notara
que Bill Haley e Allan Freed afinal já não tinham idade para serem ídolos
jovens. Talvez o rock finalmente tivesse morrido. Ou talvez apenas precisasse de
algumas mudanças
- Anos 60
Continuando a série de fatalidades entre os rockstars iniciadas em 1959, já em
abril de 1960 morreria Eddie Cochran em uma colisão de um táxi contra um poste
de energia elétrica. No mesmo carro estava Gene Vincent que juntamente com a
namorada de Eddie sofreu apenas ferimentos. O impacto emocional do acidente
talvez tenha sido o motivo pelo qual Gene Vincent não mais apresentou a mesma
performance e iniciou o declínio de sua careira (chegando a desmaiar no palco
durante uma tour pela Inglaterra).
No final da primeira fase do rock and roll também foi emblemática a perseguição
ao criador do estilo, Allan Freed, processado e condenado ao pagamento de uma
multa de mais de US$30.000 por ter recebido pagamentos em troca da execução de
determinadas músicas em seus programas e festas. Alegava-se que as atitudes
antiéticas de Allan Freed haviam sido responsáveis pelo sucesso do rock and
roll que de outra forma não poderia ter atingido tamanha repercussão. Allan
Freed após a divulgação deste escândalo foi obrigado a se retirar da atenção
do público.
Mas enquanto o rock declinava sensivelmente no seu país de origem, do outro
lado do Atlântico, na Inglaterra, principalmente nas cidades portuária (por
terem estas acesso mais fácil às músicas que vinham do continente americano),
crescia o interesse pelo rock and roll. Billy Furry foi o primeiro artista de
rock inglês a ter alguma repercussão nos Estados Unidos, ainda baseado nos
conceitos comerciais do rock original, com músicas feitas por encomenda. Na
cidade de Liverpool estava tomando forma um movimento cultural que tomou o nome
de um fanzine musical local, Mersey Beat. Entre as bandas locais já se
destacavam os Beatles.
Em oposição ao rock juvenil e inocente da década de 50, começaram a surgir
nos Estados Unidos artistas mais preocupados em passar mensagens importantes
através da música. Com base na música folk e tocando em bares surgiam
artistas como Bob Dylan e Joan Baez, que em muito breve viriam a mudar o rosto
do rock. O movimento intelectual chamado de Beatnik foi de grande importância
na formação deste novo estilo. O Beat era caracterizado pela valorização da
individualidade, do livre arbítrio, da experimentação e da mudança, em
contradição à manutenção dos antigos valores considerados importantes pela
burguesia.
Em 1963 Bob Dylan já era um astro de relativa repercussão e suas letras
inteligentes chamavam a atenção de público e crítica, fato inédito até então
na música pop. Em abril fez seu primeiro grande show em New York, e teve uma
apresentação no programa de TV de Ed Sullivan cancelada em virtude do conteúdo
"revolucionário" de suas letras. Já em maio ocorreria na Califórnia
o Monterey Festival reunindo Bob Dylan e Joan Baez, além de outros artistas do
estilo como Peter Seeger e o trio Peter, Paul & Mary. Rapidamente a música
folk e principalmente Bob Dylan seriam taxados de comunistas e degenerados, o
que obviamente atraiu a atenção do público jovem e aumentou o apelo do novo
estilo.
Do rock ao estilo antigo talvez a única grande novidade no início da década
de 60 tenham sido os Beach Boys, banda a início dirigida basicamente à
comunidade de surfistas, mas que terminou por ter uma inesperada repercussão
com o hit Surfin’ Usa (um plágio descarado a Sweet Little Sixteen de Chuck
Berry, por quem seriam processados neste mesmo ano). Em seu rastro surgiriam
outros artistas com temas de surf, como Jan and Dean.
Na Inglaterra, contratados por George Martin da EMI, após terem sido
desprezados pela gravadora Decca, em 1963 os Beatles já eram um sucesso sem
precedentes usando a formula de juntar o apelo fácil de músicas cativantes a
grande presença, bom humor e algum cinismo em entrevistas, que chamavam a atenção
da imprensa. Era estranho também para a época que fossem os próprios membros
da banda responsáveis por grande parte de suas composições. Com um cover de
Come On (música de Chuck Berry) estreava também na Inglaterra, ainda sem
grande repercussão, a banda Rolling Stones.
As novidades já não levavam tanto tempo para se espalhar por outros paises.
Bob Dylan e outros artistas folk dos Estados Unidos penetravam finalmente o
mercado inglês enquanto paralelamente os Beatles conquistavam a América.
Curiosamente em abril de 1964 Bob Dylan era número um na Inglaterra com a música
The Times They Are A Changin enquanto os Beatles ocupavam as cinco primeiras
posições na parada americana (com Cant Buy Me Love em primeiro lugar). Não
havia atritos ou disputa entre os estilos musicais opostos... as letras e a
postura política de Bob Dylan sempre foram abertamente elogiadas pelos Beatles.
Os Rolling Stones se tornavam também um grande sucesso mundial com sua ida aos
Estados Unidos pouco após os Beatles (a atitude irreverente dos Stones, com
seus freqüentes escândalos, era a antítese perfeita à educação e boa aparência
dos Beatles, conquistando a parcela mais rebelde do público). Outras bandas
inglesas como Herman’s Hermits, The Kinks e The Animals também despontavam.
A partir de 1965, com a banda Yardbirds (de carreira tão curta quanto
influente, que teve entre seus membros ninguém menos que Eric Clapton, Jimmy
Page e Jeff Beck) e The Who, o rock começava a ganhar uma agressividade inédita,
com guitarras mais distorcidas e mais amplificação.
Em 1966, com o single Substitute o The Who finalmente levava o hard rock pela
primeira vez ao topo das paradas (em grande parte devido à repercussão do
quebra-quebra generalizado promovido após os shows pela banda no palco e pelo público
na platéia), enquanto Eric Clapton forma o power trio Cream. Nos Estados Unidos
às novidades eram menos agressivas: a fusão definitiva entre o folk e o rock
da banda The Byrds e Simon & Garfunkel e as harmonias vocais da banda The
Mammas and The Pappas.
As influências das temáticas mais complexas do folk rock eram flagrantes (vide
a evolução dos Beatles com o álbum Revolver) e paralelamente às letras mais
instigantes os músicos buscavam também levar adiante as sonoridades,
explorando instrumentos exóticos e arranjos mais complexos, experimentais e
inesperados.
As drogas não mais eram apenas consumidas para eliminar o cansaço, mas sim
para buscar prazer e estados alterados de percepção. A música da época foi
fortemente influenciada por drogas como LSD, seja porque era composta sobre seu
efeito ou porque era composta de maneira a simular ou tentar ampliar seus
efeitos. O novo tipo de música foi chamado de psicodélico.
Sobre o efeito de LSD os Beatles gravaram o que possivelmente foi o álbum mais
revolucionário da história do rock, Sht Peppers’ Lonely Hearts Club Band, em
1967. Pela primeira vez uma banda de rock rompeu definitivamente com o formato
extremamente comercial da música hit single, lançando uma obra em que cada música
era apenas uma parte do todo. Tendo gasto mais de 700 horas e seis meses de
gravação, tratou-se de um álbum instigante desde a sua capa (uma colagem de
personalidades admiradas pelos Beatles) até o último sulco do disco (um ciclo
sem fim).
Para muitos Sgt Peppers é considerado o nascimento do rock progressivo (que não
se prende a nenhum conceito predefinido, baseado na experimentação e no
ineditismo). Divide esta glória com um outro álbum, curiosamente gravado no
mesmo estúdio e ao mesmo tempo, The Pipers At The Gates Of Dawn, da banda Pink
Floyd, que havia ficado famosa pelas suas performances audiovisuais no
underground londrino, capitaneada pelo gênio movido a LSD de Syd Barret.
Descoberto e levado para a Inglaterra pelo ex-Animals Chas Chendler, Jimi
Hendrix seria uma outra grande revelação de 1967. Com seu segundo single,
Purple Haze (o primeiro havia sido Hey Joe, um ano antes) Hendrix captou a atenção
não apenas do público, mas de astros como Eric Clapton e Mick Jagger, criando
uma nova sonoridade e ampliando definitivamente o papel e os recursos da
guitarra elétrica no rock.
Baseados na agressão ao stablishment e na liberdade (sexual e de experimentação)
herdada do pensamento beat, surgia nos Estados Unidos o movimento hippie,
concentrado principalmente em San Francisco, e tendo como expoentes bandas como
Gratefull Dead, Jefferson Airplane (claramente influenciadas por drogas) e The
Doors (com seu primeiro single, Light My Fire) e artistas derivados da música
folk como Janis Joplin. São marcos da época as flores no cabelo (daí o termo
flower power), os cabelos longos e as comunidades alternativas. O símbolo de três
pontas relacionado ao lema "paz e amor" foi tomado da sinalização
militar que significava "cessar bombardeio". Nada mais adequado em época
de Guerra do Vietnan.
O grande evento do ano de 1967 seria o Monterey Pop Festival que reuniu na
California Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Animals, Simon and Garfunkel, Bufallo
Springfield, entre outros.
Em 1968 com o final da banda Yardbirds Jimmy Page forma o New Yardbirds logo
renomeado para Led Zeppelin, ao mesmo tempo em que o Cream alcançava um
merecido sucesso. Uma outra banda de hard rock, Sttepenwolf, na música Born To
Be Wild, cunhava pela primeira vez o termo ‘heavy metal’. A sonoridade do
Led Zeppelin era inédita, e embora muito baseada no blues, mais agressiva do
que qualquer música anterior. Instrumentistas virtuosos, solos e improvisações
de tempo indeterminado começavam a se destacar. O hard rock iniciava seu período
de apogeu ao mesmo tempo em que os clássicos como Beatles e Pink Floyd,
passavam por problemas de convivência cada vez maiores (embora os Beatles ainda
fossem levar sua carreira adiante por quase dois anos, o Pink Floyd sofreria uma
grande mudança com a saída de Syd Barret).
1969 foi ainda o ano dos grandes festivais. A morte de um fã durante um show
dos Rolling Stones durante uma apresentação gratuita no festival de Altamond,
California, foi o marco negativo do ano. Mas mesmo esta má impressão não
seria capaz de abafar a realização do que possivelmente foi o maior evento de
música de todos os tempos, entre 15 e 17 de Agosto, em Woodstock, interpretado
por muitos como o marco do início de uma nova era de paz e amor, com apresentações
entre outros de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jefferson Airplane e The Who. No
Newport Jazz Festival por sua vez apresentaram-se Led Zeppelin, Jethro Tull,
John Mayall, Ten Years After, Jeff Beck, James Brows, Johnny Winter, entre
outros.
Com bandas de músicos virtuosos como Pink Floyd, Led Zepellin, Cream, Jethro
Tull e Deep Purple, e os super experimentais Mothers Of Invention de Frank
Zappa, associados aos trabalhos cada vez mais elaborados de bandas antigas como
os Beatles e o The Who (que havia lançado a ópera rock Tommy, elevando
definitivamente o rock a categoria de arte) a simplicidade característica do
rock dos primeiros tempos havia sumido.
- Anos 70
Em 1970 o rock, assim como os roqueiros da primeira geração, já haviam
atingido sua maioridade e a inocência dos primeiros tempos era apenas passado.
As grandes bandas em sua maioria estavam cercadas dos melhores equipamentos de
estúdio e mesmo orquestras (bastante emblemático é o lançamento do Deep
Purple, Concerto For Group And Orchestra). Um outro grande passo para a
sofisticação fora também a rápida difusão dos sintetizadores (a início os
Moogs e Minimoogs inventados por Robert Moog), teclados capazes de criar novas
tessituras e variedades sonoras antes impraticáveis.
O fim dos Beatles foi emblemático do fim de mais uma era no rock. Haviam sido
talvez a banda que mais ajudara na transição entre o rock básico de letras
simples dos primeiros tempos ao rock mais complexo e sério musicalmente e
liricamente. Não mais apenas diversão e produto de consumo o rock era
definitivamente encarado como expressão artística e social.
O publico de rock se dividia em duas frentes, a dos adolescentes mais
interessados nos hits singles de bandas teoricamente "descartáveis" e
a dos já amadurecidos rockers dos primeiros tempos, em busca de experimentação,
letras elaboradas, álbuns completos.
O rock progressivo começava a se apresentar ao grande público e Greg Lake, após
abandonar a banda King Crimson, formava a clássica banda Emerson, Lake &
Palmer (acompanhado de Keith Emerson e Carl Palmer), cativando um público cada
vez mais sério. O álbum Deja Vu de Crosby, Stills, Nash & Young, é o mais
vendido do ano nos estados unidos. Com a aquisição do baterista Phill Collins
a banda Genesis iniciava sua careira de sucesso.
Embora o rock progressivo continuasse em expansão, bandas de musicalidade mais
simples e muito baseadas no apelo fácil da rebeldia voltavam a surgir para
suprir a nova geração, principalmente nos Estados Unidos, como Slade, Sweet,
Gary Glitter, T Rex, ou conseguiam um sucesso tardio, como David Bowie, Bay City
Rollers e Elton John. A imagem (maquiagem, cabelos, roupas exageradas e
coloridas) de músicos como Marc Bolan, do T Rex, iniciavam a definição do
estilo Glam Rock (que aproveitavam a imagem esdrúxula e em muitos casos andrógina
como fator de marketing).
Na Inglaterra, em 1970, sem requintes musicais, o Black Sabbath gravava seu
primeiro disco (conta à lenda que em apenas dois dias), auto intitulado,
expandindo as fronteiras do "peso" no hard rock e criando o que
possivelmente poderia ser o primeiro disco definitivamente heavy metal conhecido
do grande público. O limite dos escândalos envolvendo sexo, drogas e
"satanismo" também é empurrado para diante.
Munido de maquiagem e teatralidade inéditos até então Alice Cooper seria a
resposta americana ao inédito peso e atitude do Black Sabbath. Surge para o público
em 1971 com o hit Eighteen e o álbum Love It To Death.
A cristalização do uso da imagem, do teatro e da "atitude" como
fator de marketing tão ou mais importante do que a própria música seria a
banda americana Kiss (que lançou seu álbum de estréia, auto-intitulado, em
1974) cujos músicos tocavam maquiados, assumiam personalidades de demônio,
animal, homem espacial e deus, voavam, cuspiam fogo, vomitavam sangue e vendiam
discos, maquiagem e bonecos como nenhuma banda de simples músicos poderia
vender.
Em 1975, paralelamente ao rock elaborado das bandas progressivas ou de hard rock
(o Queen lançava seu excelente primeiro disco auto-intitulado) e ao rock
comercial glam, surgia nos pequenos bares e casas de show dos Estados Unidos um
movimento musical underground marcado por descompromisso e cheio da
autenticidade e da real rebeldia que faltava a estes primeiros. Em pequenos
locais (como o emblemático CBGB em New York) bandas como Blondie e Ramones. O
estilo era marcado pelo "do-it-yourself", a possibilidade de qualquer
um (mesmo que não sabendo tocar) montar uma banda.
Foi responsabilidade de Malcon McLaren, até então dono de uma loja de roupas
de couro (de certa forma uma sex shop) em Londres, o aproveitamento do novo
estilo como algo comercial. Não tendo sido bem sucedido em empresariar a banda
americana New York Dolls (que já estavam em franca decadência), McLaren voltou
a Londres com a finalidade de montar ele próprio uma banda usando o padrão que
havia conhecido nos Estados Unidos. Entre clientes de sua loja recrutou quem
tivesse os parcos conhecimentos musicais necessários para formar a banda Sex
Pistols. Acrescentaram à música simples e alucinada dos punks americanos
letras anarquistas e mais agressivas. Seu primeiro hit foi Anarchy In The Uk, em
1975.
O punk criado nos estados unidos e popularizado na Inglaterra (onde logo viria a
se tornar um movimento social do proletariado e não mais apenas um estilo
musical) foi uma resposta necessária ao rock que estava se levando a sério
demais, aos álbuns duplos conceituais, aos solos de dez minutos e às bandas
que perdiam de vista o caráter de diversão do rock. O punk embora considerado
por muitos antimúsica foi na pior das hipóteses um mal necessário para
mostrar e conter alguns exageros do progressivismo.
Em 1977 o primeiro disco dos Sex Pistols, Nevermind The Bollocks entraria direto
no primeiro lugar da parada britânica. Aos Sex Pistols se seguiriam dezenas de
bandas inglesas e americanas como Clash, Damned, Siouxie and The Banshees, além
de serem resgatadas e tiradas do anonimato bandas como Ramones e Blondie.
O estilo também influiria embora indiretamente na sonoridade de novas bandas
que surgiam, como Motörhead e AC/DC. O punk também absorveria elementos de
outros estilos (como o reggae, por exemplo, de temática e musicalidade
semelhantes em sua simplicidade). Bandas como The Police, Simple Minds e
Pretenders (e um pouco mais tarde U2) adotariam um estilo que viria a ser
conhecido como new wave, mais facilmente aceitável que o punk (cuja fórmula
inicial já não surtia tanto efeito comercialmente).
Mas o punk e a new wave não eram a única alternativa à onda "disco"
que assolava a música. Começava a se formar na Inglaterra com bandas como
Judas Priest, Samsom e principalmente Iron Maiden o que viria a ser conhecido
como New Wave Of British Music, a resposta do som pesado e elaborado à
sonoridade simples do punk. O hard rock também dava sinais de renovação com o
primeiro álbum auto-intitulado da banda Van Halen em 1978.
Apesar do fim dos Sex Pistols em 1978 (com a fórmula tão esgotada quanto os próprios
músicos após uma imensa tour pelos Estados Unidos) e da morte do anti-herói,
símbolo do punk, Sid Vicious (de overdose, após conseguir liberdade
condicional da prisão onde estava por ter supostamente assassinado a namorada)
em 1979, o rock nunca mais seria o mesmo após a onda punk.